quarta-feira, 19 de março de 2014

Audax 200km Rio das Ostras/RJ

Em 16/03/2014 teve a primeira prova de Audax 200km da série 2014 do Audax Rio, que foi na tradicional cidade de Rio das Ostras/RJ.

Muita gente critica os brevets que acontecem em Rio das Ostras, dizendo que é muito fácil. Mas vou dizer, ó: foi muito difícil.

De fato, a altimetria é suave. Não se tem subidas longas e íngremes como em Holambra ou Boituva, provas que são organizadas pelo clube Audax Randonneurs São Paulo, mas em compensação, que vento era aquele?? (Tá bom, gente... Boituva também tem um vento dos infernos. Mas como não pedalei em Boituva com vento, não posso comparar.)

Depois de fazer 200km e 300km em Rio das Ostras/RJ em 2012, e não conseguir concluir os 300km e 400km em São Paulo no mesmo ano, nem os 200km em 2013, desencanei. Não concluí nenhum brevet em 2013 e tinha certeza que minha breve carreira no Audax tinha chegado ao fim.

Eis que meu filho, que está com 12 anos, pediu pra fazer uma prova. As provas em São Paulo, mesmo os desafios de 100km são muito puxadas para a idade dele. Resolvemos então levá-lo para Rio das Ostras.

Aproveitando que ele faria o desafio de 60km, me inscrevi nos 200km. Achei que ia abafar (mesmo sem treinar), afinal, subidas são problema e lá não tem subidas. Meu único medo era o caminho.

Tomei vários tapas na cara durante a prova. O caminho já era meio conhecido meu, pois a rota pouco mudou em relação a 2012. Mas o vento..................

No sábado, chegando na cidade, percebemos que o vento estava muito forte, então eu já sabia que estaria tenso no domingo. Só não sabia que seria TÃO tenso.

Subestimei o vento e quase me lasquei.

Fui "socando a bota" até o primeiro PC - posto de controle no km 50. Estava bem e não estava lerdando. Parava nos PCs e PAs - postos de apoio, somente o necessário e saía. A ideia de que eu estava abafando se concretizava.

Mas saindo do primeiro PC em Macaé comecei a sentir o vento contra.

Até o PA em Carapebus, com aproximadamente 77km pedalados, eu sofri um pouco. Estava BEM quente, mas eu não percebia por conta do vento forte. Temperatura em torno de 43ºC, ventos fortes que não deixavam a bike ir a mais de 10km/h no plano e uma ciclista sem noção e sem treino formavam a receita do fracasso.

Uma hora eu parei numa sombra e fiquei imaginando que iria desmaiar. O mundo girava ao meu redor, tudo parecia muito claro e meio brilhante... Parei, bebi muita água, comi um pouco e fui cambaleando até o PA. E saí do PA confiante que chegaria até Quissamã, no PC2, com 105km, super bem.

Só que eu demorei MUITO pra chegar até Quissamã. O pedal não rendia, por mais força que eu fizesse. Mesmo deixando as marchas bem leves, não dava... Comecei a me desesperar.

Pensava em pedir carona pros carros que passavam. Pensei em pedir pra alguém de moto me empurrar. Pensei em ligar pra pedir resgate.

E pensando na desgraça eu ia, devagar e sempre.

No auge do meu desespero, comecei a conversar com Deus. Veja só, eu nem sou religiosa!! Mas o desespero era tanto, que pedi por um sinal de que Ele existia.

Eu pedalava e chorava e pedia a Deus pra me dar uma luz de que estava tudo certo. Nisso, no fim de um micro morro, aparecem dois ciclistas que passam e gritam "faltam só 4km!".

Eu sabia que não eram só 4km porque meu velocímetro mostrava que eram no mínimo 9km. Mas o sinal de Deus não poderia ser mais claro: eu estava quase chegando, era só ter fé e pedalar.

Assim eu fui, parando em algumas sombras, pensando em empurrar e desesperada.

Quando vi o pórtico de entrada da cidade de Quissamã, respirei aliviada. Mas foi só pegar a rotatória da cidade e entrar na ciclovia que senti o vento mais forte e totalmente de frente, totalmente contra mim. Comecei a chorar forte mas não saíam lágrimas. Acho que eu estava desidratada então não tinha nada pra sair! Ahahahahahaha!

Que desespero. Os poucos quilômetros até Quissamã foram feitos com muita dificuldade, mas quando vi os cones que indicavam a entrada do PC, acelerei e cheguei.

Correi e perguntei se dava tempo ainda, afinal tinha certeza de que tinha estourado o tempo. Até estava com o tempo para aquele PC estourado, mas se eu corresse, daria para terminar o brevet no tempo limite de 13h30 de pedal, ou seja, até às 21h10. Achei que era a última a chegar, mas depois de mim chegaram vários ciclistas.

Comi o tradicional macarrão oferecido pela Prefeitura de Quissamã e tomei uma Coca de 600ml inteira! Fazia só uns 15 anos que eu não tomava mais de um gole de refrigerante. Mas foi necessário porque eu estava só o pó da rabiola.

Também não me demorei no PC de Quissamã. Comi, tomei a Coca e saí. Correndo, literalmente.

O vento estava a favor agora, então não precisava me esforçar muito pra ir a 25km/h. Ainda bem, porque para chegar em tempo no PC3, que seria em Macaé também, eu teria que fazer uma média de 25km/h.

Eu parei de fazer contas de tempo, somente pedalava. E não é porque eu estava com vento nas costas que eu não pensava em desistir. O caminho até chegar em Carapebus é muito isolado. São estradas asfaltadas mas pouco movimentadas, então a solidão me deixava assim, abalada.

Mas continuei, firme e forte. Mais forte do que firme. Em muitos momentos as pernas não obedeciam e eu pensava que nunca mais ia poder descer da bicicleta pois não teria força para "desclipar"...

Cheguei em Macaé cedo, muito antes do que eu imaginava. Faltavam ainda 3 horas para terminar o brevet, e pouco mais de 40km. Estava fácil!!

Dei uma sorte danada e encontrei vários ciclistas bons em Macaé. Formamos um grupo de 10 pessoas e fomos pedalando pela cidade, em meio ao trânsito e aos carros, fazendo uma média alta.

Conversei, me diverti muito nesse último trecho e não precisei pedalar no escuro sozinha. Estava feliz e realizada, pois o sol e o vento não castigavam mais e eu não estava sozinha. Nem sentia que estávamos pedalando num ritmo bem forte. Eu somente acompanhava o grupo e aproveitava a minha vitória!! Estava tão feliz!!

Minha gratidão eterna a todos que me acompanharam.

Chegamos em Rio das Ostras às 20h05, com folga de 1h05 para o término da prova.

Estava cansada mas muito feliz!

E agradeci a Deus, afinal de contas, Ele me ajudou demais. Agradeci por ter um corpo que, apesar de bem gordo, me permite fazer coisas que muita gente malhada não consegue. Agradeci por ter a saúde e a capacidade de pedalar que eu tenho, mesmo tomando anticoagulante diariamente. Agradeci por não ter nenhum pneu furado. E agradeci pelo apoio do marido e do filho.

Tinha pedido pra não ter nenhum pneu furado e não tive. Minha bicicleta funcionou perfeitamente, apesar do fit não estar adequado. E o selim não me deixou com dores na bunda. Tudo deu certo. Não tinha como ser melhor.

Se eu vou fazer os 300km?? Acho meio difícil responder agora. Tenho vontade, mas não tenho preparo....

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Para quem não sabe o que é uma prova de Audax, explico rapidamente: o nome correto para a modalidade é Randonnée, visto que a média de velocidade das provas é de 15km/h. Nas provas de Audax, a média é de 22,5km/h, mas por algum motivo no Brasil misturamos tudo. Você pode ler mais aqui. Você pode entender um pouco mais da história sobre a criação dos Brevets aqui, e o regulamento dos Brevets Randonneurs Mundiais aqui.

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